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Uma Transformista Original: 100 anos de história

 

Um dos filmes mais revolucionários do cinema mundial foi produzido em Barbacena pelo pioneiro do audiovisual barbacenense Paulo Benedetti. Conheça a história abaixo.

 

 

Por Ricardo Rios, da Redação TVBQ Documento

1888. Barbacena começava a receber os primeiros imigrantes italianos de Minas Gerais, em um projeto piloto do Governo Brasileiro chamado Colônia Rodrigo Silva. 17 anos depois, em 1909, a cidade recebia um imigrante chamado Paolino (Paolo) Michellini Benedetti. Paolo virou Paulo e construiu na cidade uma das histórias mais revolucionárias do audiovisual mundial.

 

Colônia italiana é destacada no Relatório da candidatura de Barbacena à capital de Minas Gerais, em 1893. A escolha, feita na cidade, transformou Belo Horizonte na nova capital do Estado. Imagem: Reprodução/Relatório das localidades indicadas para a nova capital do Estado de Minas Gerais

Quem foi Benedetti?

 

Benedetti é um livro - um grande livro que nem todos leem (Revista Cinearte, Edição 6, 1929)

 

Paolo Benedetti nasceu em Bernalda, uma cidade italiana com pouco mais de 12 mil habitantes, em 1863. Segundo registros da comunidade italiana, Benedetti chegou ao Brasil em 1897.

 

Benedetti veio ao Brasil para trabalhar com extração de gás de acetileno. No Rio, ele montou uma fabrica de aparelhos para uso do gás. Sua empresa foi responsável por fazer a iluminação de um extenso trecho da Central do Brasil. Anos mais tarde,  após quase morrer em uma explosão, a empresa fechou e o italiano foi para São Paulo, onde montou um cinema, o Cine Japonês.

 

Em 1909, o italiano decidiu se mudar para uma cidade onde vários conterrâneos já tinham se fixado: Barbacena (MG). Segundo o histórico da cidade escrito pelo professor Mário Celso Rios, e disponível no Blog do Loucos por Barbacena, Benedetti chegou à cidade em 1909, onde começou a realizar seus primeiros teste com o cinema. Na cidade, com seu Cinema Mineiro, exibia películas francesas e italianas. Patenteou, em 1912, o cinemetrófono, um processo de sincronização da imagem ao som. Voltou para o Rio de Janeiro e abriu um laboratório de revelação de filmes e produção de legendas.

 

Em 1924, fundou a Benedetti Filme. Benedetti assumiu a direção de fotografia de Barro humano, de Adhemar Gonzaga, sucesso de crítica e público. Com a popularização do cinema sonoro, o laboratório de Benedetti passou a fazer a legendagem de filmes estrangeiros. Morreu em 1944.

 

 

 

Paulo Benedetti. Imagem: Reprodução/Fundação Biblioteca Nacional/Revista Cinearte

A Opera Filme

 

Sonhando a instalação de um estúdio modelo para a produção de grandes obras cinematográficas,

o Sr. Benedetti andou muito tempo à procura de capitalistas para tal fim. Trabalho inútil.
Ninguém queria empregar dinheiro no cinema. (Jornal A Noite, 20/06/1941, página 33)

 

Empresa genuinamente barbacenense, a Opera Filme foi o primeiro estúdio cinematográfico da cidade.  Segundo Galdini (2007), a criação do estúdio teve grande participação da comunidade italiana de Barbacena. Além das gravações, a Opera Filme foi criada com o intuito de explorar comercialmente o cinemetrófono.

 

Além de Uma Transformista Original, a empresa fazia filmes de ficção e documentários. A Opera Filme também era responsável pelo Cinema Mineiro, que exibia os filmes da empresa. O jornal Cidade de Barbacena traz relato sobre o primeiro cinema instalado na cidade:

 

a empresa cinematográfica dá seus espetáculos aos sábados e domingos. São seus proprietários os Srs. P. Benedetti & Comp., que recebem constantemente do Rio novas e apreciadíssimas fitas da Casa Pathé (Cidade de Barbacena, 22/08/1909)

 

Em 11/04/1912, na Opera Filme, Benedetti registrou a patente número 6961. A patente pertencia ao cinemetrófono e descrevia a invenção como um processo de inclusão da partitura musical na parte inferior do quadro, servindo à orquestra que acompanhava o filme. Em 1913, ele obtém outra patente do invento.

 

A cinemetrofonia deu a Benedetti o Grande Prêmio da Exposição Comemorativa do Centenário da Independência do Brasil.

 

Sem dar lucro e com poucas perspectivas de crescimento, a comunidade italiana retirou seu investimento da Opera Filme, levando Benedetti de volta ao Rio de Janeiro, onde daria continuidade a seus trabalhos com cinema.

 

 

 

 

À esquerda, Paulo Benedetti. À direita, Benedetti e sua família, no Rio de Janeiro.

Uma Transformista Original

 

E ali mesmo em Barbacena exibiu o primeiro filme sincronizado que o Brasil já assistiu!
E isto no anoitecer de 1910...  (Revista Cinearte, Edição 6, 1929)

 

 

Foi em 1910 que Barbacena viu o filme que lançaria áudio e imagem sincronizados. A primeira exibição do filme foi para um pequeno público, que contava com as presenças de Chrispim Jacques Bias Fortes, José Bonifácio de Andrada e Silva, Sena Figueiredo e professor Soares Ferreira. Relatos disponíveis na Cinemateca Nacional dão conta de que o filme foi exibido pela primeira vez no Cinema Mineiro em 1915.

 

Mesmo com os relatos da revista Cinearte, de 1929, de que Uma Transformista Original foi exibido em 1910, convencionou-se que a exibição aconteceu no dia 30 de outubro de 1915, um sábado.

 

O filme, segundo trechos do Cidade de Barbacena disponíveis na Cinemateca, é "uma interessantíssima opereta dividida em cinco partes musicais sendo três partes cantadas pela máquina cinematográfica e acompanhamento musical". O áudio era sincronizado com discos "por sistema inventado por Paulo Benedetti". A grande estrela "em vários papéis, Brazilia Lazzaro". Além de Brazilia, sua irmã, Grizelda, também participou da obra. Brazilia vivia na Colônia Rodrigo Silva e, segundo Márcio Galdini, era diplomada pela Escola Dramática.

 

"Eles todos cantavam. A pastora, nos versos, dizia que não era boba de deixar sua casa por um palácio. (...) Brazilia apresentava o filme com um vestido de lantejoulas, abrindo uma cortina. Havia uma cena com Nossa Senhora e depois num cemitério; contracenando em dois papéis, um casal de fidalgos cantava uma canção italiana."

 

De acordo com Márcio Galdini, um casal de artistas ambulantes de sobrenome Ferreira esteve na película.

 

Tinha o filme cinco partes, três das quais sincronizadas com o fonógrafo e a orquestra e as demais só com esta última. Brasília tinha uma voz agradável para os papéis de opereta, e no filme interpretava trechos de óperas e canções italianas, como a romanza M’appari tutt’amor, da Martha, de Flotow. Os discos foram gravados no Rio, na casa Edison, de Frederico Figner. Não era um filme de curta-metragem. Se considerarmos que cada parte tem cerca de 300 metros, o filme com 5 partes devia durar cerca de 40 minutos, sendo, portanto, um média-metragem. (Galdini, 2007)

 

 

 

 

A única cena de Uma Transformista Original disponível ao público. Imagem: Reprodução/Cinearte/Fundação Biblioteca Nacional

Outro destaque do filme é que, pela primeira vez na história do cinema mundial, uma mulher foi operadora de câmera. Rosina Cianello, que era prima de Benedetti, operou os equipamentos juntamente com Paulo. À frente de seu tempo, Benedetti, o pai do audiovisual em Barbacena, transformou não apenas o consumo, mas também a produção.

 

A importância do filme é ressaltada por Roger Boussinot, em sua Enciclopédia do Cinema. Na página 194, Boussinot diz que em meio às frustações para se criar o cinema sonoro, é interessante acompanhar os testes de Benedetti em Uma Transformista Original:

 

 

 

© 1980, Bordas.  Imagem: Reprodução/Google

Cartaz do Cinema Mineiro anunciando a estreia de Uma Transformista Original. Imagem: Reprodução/Cinemateca Nacional

De volta ao Rio

 

É o próprio Benedetti quem fala: "Barro Humano" está, de facto, melhor, muito melhor,
que os outros meus filmes (Revista Cinearte, Edição 6, 1929)

 

Após encerrar as atividades da Opera Filme em Barbacena, Benedetti pegou o trem com sua família e seguiu em direção à Capital Federal, o Rio de Janeiro, em 1917.

 

Lá, ele abriu uma nova empresa, a Benedetti Filme, que além de fazer filmes, também fazia legendas para películas estrangeiras. Na Benedetti Filme, ele fez "A Gigolette", "O Dever de Amar" - que, de acordo com Galdini, foi sabotado pela Empresa Matarazzo - e outros filmes. Entre eles, está "Barro Humano", lançado em 1929 e considerado a maior obra de Benedetti.

 

O pioneirismo não acabou em Barbacena

 

É o próprio Benedetti quem fala: "Barro Humano" está, de facto, melhor, muito melhor,
que os outros meus filmes (Revista Cinearte, Edição 6, 1929)

 

No Rio, Benedetti não parou de inovar. Em 1926, juntamente com outros diretores e distribuidores nacionais de filmes, cria o Circuito Nacional de Exibidores, que tinha o objetivo de produzir e explorar filmes nacionais. O Circuito dura apenas três anos.

 

Benedetti também montou, em 1927, um processo para fazer filmes coloridos. Além disso, o filme Barro Humano foi o primeiro nacional a ser exportado. A película foi exibida na Argentina e em Portugal.

Filmografia

 

 

 

1912

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Filmes de 1912

 

Filme especialmente organizado para demonstração da cinemetrofonia (Título atribuído)

Rodado em 35mm, produzido por Paulo Benedetti. A Cinemateca Nacional não possui mais informações.

 

 

 

O Guarani

Musical rodado em 35mm. Gravado em Barbacena por Benedetti.

Ficha técnica:

Companhia(s) produtora(s): Opera Filme

Produção: Benedetti, Paulo

Operador: Benedetti, Paulo

Música de: Gomes, Carlos;

Elenco:

Russo, Antonio

Castro, Alfredo "Boi d'Água" de

Sebastião

 

 

 

 

Documentários

Filme silencioso rodado em 35mm. Gravado em Barbacena por Benedetti. A Cinemateca Nacional considera a obra como desaparecida.

 

 

 

Canção Popular

Rodado em 35mm. Apesar do nome e de ter desenvolvido tecnologia para a execução de sons nos filmes, a película era silenciosa. Gravado em Barbacena por Benedetti. A Cinemateca Nacional considera a obra como desaparecida.

 

 

 

Canção Popular

Rodado em 35mm. Apesar do nome e de ter desenvolvido tecnologia para a execução de sons nos filmes, a película era silenciosa. Gravado em Barbacena por Benedetti. A Cinemateca Nacional considera a obra como desaparecida.

 

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